A cena dura poucos segundos, mas diz muito sobre o tempo em que vivemos. Em pleno Senado Federal, diante da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a indústria bilionária das apostas online, Virginia Fonseca — um dos maiores nomes da influência digital no Brasil — se confundiu. Quis matar a sede. Procurou o canudo da garrafa. E, sem perceber, levou o microfone à boca.

Era um copo invisível ou um lapso de quem está mais habituada ao ringue das redes sociais do que aos ritos do Congresso? Talvez os dois. O certo é que o episódio arrancou risos do plenário e ganhou vida própria fora dali, rodopiando nas redes sob o selo de “meme do dia”.

“Chupei o canudo”, disse ela ao advogado, com um riso desconcertado que misturava inocência, surpresa e a certeza de que, dali em diante, nenhum assessor conseguiria conter a avalanche de comentários.

Era para ser o momento em que Virginia, com mais de 53 milhões de seguidores, prestaria contas ao Senado sobre sua participação na publicidade de casas de apostas. Mas, no Brasil de 2025, bastaram alguns segundos de distração para que o foco saísse do conteúdo e mirasse o espetáculo.

E o preço veio rápido. Nas horas que se seguiram ao depoimento, Virginia perdeu cerca de meio milhão de seguidores. O número, por si só, não arranha sua relevância no mercado, mas revela a fragilidade da influência digital quando confrontada com temas que escapam ao filtro da rotina cor-de-rosa.

Não foi a primeira vez que uma CPI virou palco. Também não foi a primeira em que a estética venceu o conteúdo. O Congresso vira tela, os senadores viram apresentadores, os depoentes viram personagens — e o povo, bem, o povo assiste, comenta, compartilha, ri.

No fundo, o incidente do microfone pode parecer banal. Mas resume bem o país onde a política se mistura com o entretenimento, e a audiência dita o tom do debate. Em meio a denúncias graves sobre vícios legais, lavagem de dinheiro e manipulação de vulneráveis, o que viralizou foi a confusão entre um microfone e um canudo.

Talvez tenha sido só sede. Ou talvez seja sintoma. Uma metáfora perfeita para um Brasil onde, entre likes e CPI, até a sede virou pauta.

Redação Cultura FM /Hudson Alves

19/05/2025 – Cultura FM