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No futebol brasileiro, não há coincidências — há articulações. Quando Samir Xaud posou ao lado de 20 dirigentes no dia do registro da candidatura, aquilo não era apenas um retrato: era um recado. Ali estava um médico de Roraima cercado de presidentes de federações — rostos conhecidos de um velho jogo político com ares de novidade. A mensagem era clara: essa candidatura não é de um homem só. É de um projeto. Coletivo, como gostam de dizer.
A escolha do nome de Samir para a presidência da CBF, que será oficializada no próximo domingo (25), não veio de um discurso inflamado, de uma promessa messiânica ou de um gesto ousado. Veio do sussurro dos bastidores. “Não fui eu que disse ‘eu quero’”. E há, nessa frase, uma síntese perfeita do que se tornou a política da bola no Brasil: ninguém se lança — todos são “escolhidos”.
Samir é médico. E talvez isso pese no momento. A Confederação Brasileira de Futebol parece, há anos, doente — acometida por crises de transparência, escândalos, vaidades e uma crônica dependência dos mesmos grupos que dominam os bastidores. Uma gestão clínica, então, soa como alternativa. Alguém que, ao invés de driblar, saiba diagnosticar.
Mas a medicina de gabinete não basta quando o organismo está comprometido pelas vísceras do sistema. E o sistema, no caso, é uma confederação que trata clubes como pacientes secundários e torcedores como ruído.
Vindo de Roraima, estado com pouca tradição no futebol nacional, Samir Xaud assume como uma figura que, ao menos na geografia, rompe o eixo Rio-SP. Mas isso basta? É difícil acreditar que a novidade esteja no CEP. O que se viu foi um grupo se consolidando em torno de um nome discreto, sem histórico de conflito — e com a vantagem de não representar ameaça ao poder consolidado das federações estaduais.
A eleição será sem disputa. Uma candidatura única. O futebol brasileiro, tão acostumado à emoção, ao imprevisível e ao drama em campo, verá mais uma página de previsibilidade fora dele. Ganha quem não tem adversário.
A medicina ensina que, para tratar uma doença crônica, não basta aliviar os sintomas. É preciso ir à causa. O futebol brasileiro precisa ser tratado. A dúvida é se Samir Xaud será o médico que encara o diagnóstico com bisturi… ou só mais um que receita analgésico para manter tudo como está.
Enquanto isso, a torcida — essa sim, coletiva e apaixonada — segue esperando que um dia o futebol brasileiro seja devolvido ao campo, ao povo e ao espetáculo.
Redação Cultura FM / Hudson Alves