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Em uma tarde que ressoará por anos nas arquibancadas do Maracanã e nos corredores da história do futebol sul-americano, o Fluminense superou a Inter de Milão por 2 a 0, em Charlotte, e se classificou às quartas de final da Copa do Mundo de Clubes. Mais do que apenas um resultado, foi uma aula de disciplina tática, inteligência coletiva e espírito competitivo.
A equipe brasileira, considerada zebra desde o sorteio das oitavas, ignorou os prognósticos e expôs com frieza as brechas da vice-campeã da Champions League. Com uma das folhas salariais mais modestas do torneio, o Tricolor carioca se impôs em campo com uma maturidade que contrasta com sua pouca tradição em competições globais.
Renato Gaúcho, que conhece os altos e baixos do futebol brasileiro como poucos, alterou o sistema de jogo às vésperas do confronto. Saiu o 4-3-3 costumeiro; entrou um 5-4-1 sólido, ajustado ainda durante o jogo após sugestão de Thiago Silva, capitão e símbolo da campanha.
A resposta da equipe foi imediata. O novo sistema espelhou com precisão a estrutura da Inter e anulou peças-chave do adversário. Dumfries, um dos motores do ataque nerazzurri, mal encontrou espaço. Lautaro Martínez foi engolido entre linhas. Thuram ficou sem escape.
Na prática, o Fluminense foi superior em cada centímetro de campo: pressão alta dos volantes, linha de defesa coordenada, compactação cirúrgica. No ataque, a objetividade. O gol que abriu o placar nasceu de um roubo de bola de Bernal e terminou com a cabeçada certeira de Germán Cano, após jogada de Arias e Nonato.
Em tempos em que o futebol parece cada vez mais refém dos milhões que o sustentam, o Fluminense ofereceu uma antítese rara: venceu com menos, venceu com plano, venceu com alma.
Ignácio, Freytes e o veterano Thiago Silva formaram uma muralha impenetrável. No meio-campo, cinco homens se revezavam entre destruir e construir. Arias foi um pesadelo constante para a zaga italiana. Cano, como sempre, letal. Fábio, o goleiro, respondeu quando exigido.
O time que muitos acreditavam estar fadado a sucumbir diante da força europeia agora se vê entre os oito melhores do planeta. Pela frente, o Al Hilal. Novamente, o favoritismo estará do outro lado. Mas se o futebol tivesse aprendido alguma coisa nessa noite em Charlotte, é que subestimar o Fluminense é um erro primário.
Desde a vitória sobre o Steaua Bucareste, em 1996, o Fluminense não vencia uma equipe do Velho Continente. Desde a conquista da Libertadores em 2023, não vivia um capítulo tão simbólico. Não houve taça ao final, mas houve legado. Um daqueles jogos que fazem torcedores chorarem sozinhos no sofá, emudecerem nas arquibancadas ou enviarem mensagens longas para amigos distantes.
Num estádio a milhares de quilômetros do Rio de Janeiro, o Fluminense não jogou apenas por uma vaga. Jogou por respeito. Jogou para lembrar, e ser lembrado.
Foto: Marcelo Gonçalves/FFC
Redação Cultura FM / Hudson Alves