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Num país em que a arte muitas vezes resiste entre silêncios institucionais e cortes orçamentários, o Museu de Arte de Blumenau (MAB) reafirma sua missão com consistência e delicadeza: conectar a cidade à produção contemporânea, expandir olhares e democratizar o acesso à cultura. A 3ª temporada de exposições de 2025, que será aberta nesta quinta-feira (3), às 19h, traz ao público cinco novas mostras com artistas de Florianópolis, Porto Alegre, Joinville e Blumenau, além de dois lançamentos literários e música ao vivo com integrantes da Banda Municipal.
É mais que uma abertura, é um gesto curatorial em forma de celebração, gratuito, livre para todos os públicos e ancorado no coração histórico da cidade.
O secretário de Cultura, Sylvio Zimmermann Neto, enxerga na programação a síntese do que Blumenau vem construindo: “O MAB consegue equilibrar artistas locais, regionais e nacionais, criando um diálogo rico entre diferentes linguagens e perspectivas contemporâneas. Manter entrada gratuita e horários amplos é garantir que cultura seja política pública de verdade.”
O coletivo Ruído, de Porto Alegre, ocupa a Sala Roy Kellermann com a exposição “Entre rastros e ruínas”, onde Isabelle Baiocco (pintura) e Lourenço Demarco (desenho) compartilham o ateliê e, mais do que isso, um campo visual de interdependência.
Na Sala Pedro Dantas, a fotógrafa Maria de Minas, de Florianópolis, apresenta “Cores (in)visíveis”, projeto que tensiona os limites da imagem e investiga o que escapa ao olho nu — uma fotografia mais sensorial que documental.
Já na Sala Elke Hering, a médica mastologista e artista visual Flávia Lapa, de Joinville, traz “Peitos”, uma série de obras em pintura que discutem o seio feminino como símbolo de feminilidade, desejo, maternidade e doença. É arte que acolhe e informa, evocando corpo, ciência e afeto numa mesma pincelada.
A presença blumenauense vem com o Museu Haas, estreando na Galeria Municipal/Sala Alberto Luz com “A fotografia como diário”, uma imersão nos registros históricos da família do imigrante alemão Mathias Haas. A exposição resgata fotografias, objetos e documentos que traçam a jornada de uma família e, com ela, o contorno da própria identidade regional.
Na Galeria do Papel, o artista Lima, também de Florianópolis, apresenta “Regina”, colagens que fragmentam a ideia de identidade e criam universos visuais a partir de papéis reaproveitados. O resultado é uma série densa, íntima, quase arqueológica.
A noite multicultural ainda reserva espaço para a palavra escrita. A autora Marlene Hüskes lança o livro “Memórias de Malena”, uma coletânea de crônicas que percorrem infância, guerra, imigração e cotidiano, num tom afetivo que ecoa histórias pessoais e coletivas da região.
Outro destaque é o lançamento de “Uma janela para a cidadania”, livro que celebra os 25 anos do Fenatib — o Festival Nacional de Teatro para Crianças e Jovens de Blumenau. A obra, escrita por Maria Teresinha Heimann, presidente do Instituto de Artes Integradas (Inarti), é distribuída gratuitamente e documenta os bastidores, conquistas e transformações de um dos eventos mais respeitados do país no segmento de teatro infantojuvenil.
A 3ª temporada do MAB poderá ser visitada até 24 de agosto, de terça a domingo, das 10h às 16h, com entrada franca. Ao reunir artes visuais, literatura, música e história, o museu se posiciona não apenas como espaço expositivo, mas como ferramenta de pertencimento, memória e experiência coletiva.
Em tempos de urgência e ruído, o MAB escolhe a delicadeza e o encontro. E assim reafirma o que já se sabe, mas nem sempre se diz: a arte ainda é um dos caminhos mais seguros para compreender e transformar o mundo.
Foto: Divulgação
Redação Cultura FM / Hudson Alves