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Era madrugada em Palacios de Sanabria, uma vila encravada no norte da Espanha, quando um acidente automobilístico incendiou mais do que um carro: consumiu dois irmãos e calou para sempre uma das vozes mais promissoras do futebol português.
Diogo Jota, 28 anos, atacante do Liverpool e da seleção nacional de Portugal, morreu ao lado do irmão André Silva, 26, após o veículo em que estavam sair da pista e pegar fogo na rodovia A-52. A confirmação veio horas depois, com pesar, por parte da Federação Portuguesa de Futebol que se declarou “devastada”.
O acidente ocorreu a cerca de 250 quilômetros de Madri. As chamas se alastraram não apenas pelo automóvel, mas também pela vegetação ao redor. As primeiras imagens divulgadas pelas autoridades espanholas mostram o rastro do fogo e o silêncio do asfalto depois da tragédia. Não houve tempo de socorro. Não houve sobrevida. Houve, apenas, um fim brutal.
No futebol, Diogo Jota havia encontrado um caminho em ascensão. Formado no Paços de Ferreira, passou pelo Atlético de Madrid, se consolidou no Wolverhampton e, em 2020, chegou ao Liverpool, onde conquistou títulos nacionais e se transformou em peça-chave de um elenco de elite. Em campo, era móvel, instintivo, técnico e parecia sempre jogar com algo a provar. Fora dele, pai de três filhos e companheiro discreto, Jota era tido como um colega respeitoso e de espírito leve.
Nos vestiários, era a alegria em forma de competitividade. Nos gramados, a versatilidade que faltava a Portugal em momentos decisivos. Com 14 gols em 50 convocações, Jota fez parte dos elencos que ergueram a UEFA Nations League em 2019 e 2025. Era, em muitos sentidos, a síntese da nova geração portuguesa: ousada, centrada, comprometida.
O Liverpool, clube que o acolheu nos últimos cinco anos, divulgou uma nota curta, mas carregada de luto: “Estamos devastados com o trágico falecimento de Diogo Jota. Neste momento de dor profunda, oferecemos apoio à família e respeitamos o silêncio necessário.”
Do outro lado do Atlântico, o luto também ecoa. O ex-clube Porto, onde Jota passou na base, prestou homenagens. A Federação Portuguesa solicitou à UEFA um minuto de silêncio antes da partida da seleção feminina contra a Espanha nesta quinta-feira. O futebol europeu, atordoado, pausa mesmo que brevemente para olhar com dor para essa ausência.
Jota e o irmão, também jogador, atualmente no FC Penafiel, voltavam de um compromisso pessoal. As circunstâncias ainda estão sendo apuradas, mas pouco importa para quem perdeu. A vida, tão rápida quanto um contra-ataque, não dá segunda chance.
A tragédia da madrugada espanhola encerra precocemente uma trajetória que ainda tinha muito a oferecer. E como tantas vezes o futebol já testemunhou, não foi dentro de campo que se definiu o desfecho de um craque. Foi na violência de uma curva qualquer, longe das arquibancadas, mas agora gravada no coração de milhões.
Neste 3 de julho, o futebol europeu amanheceu órfão de um talento e Portugal, de um filho que ainda fazia sonhar.
Foto: Liverpool FC
Redação Cultura FM / Hudson Alves