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Um novo estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) colocou Santa Catarina sob os holofotes de um problema alimentar silencioso: o alto consumo de produtos ultraprocessados. De acordo com a pesquisa, 19 das 20 cidades com maior ingestão desse tipo de alimento no Brasil estão em solo catarinense, incluindo Indaial, que aparece na 15ª colocação, com 26,69% das calorias consumidas pela população advindas de produtos ultraprocessados.
A capital do estado, Florianópolis, lidera o ranking nacional, com quase 30% das calorias consumidas por seus habitantes oriundas desse tipo de produto industrializado. Itajaí, Jaraguá do Sul, Blumenau e Balneário Camboriú também figuram entre os primeiros lugares da lista.
A cidade de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, também aparece no levantamento, com 26,59% das calorias consumidas pela população provenientes de alimentos ultraprocessados. Assim como Indaial, o município figura entre os 20 maiores índices do país, evidenciando que o avanço desse padrão alimentar não se restringe aos grandes centros urbanos, mas também alcança cidades de médio porte no interior de Santa Catarina.
Alimentos ultraprocessados são produtos industriais formulados majoritariamente a partir de substâncias extraídas de alimentos como gorduras, amidos, açúcares e proteínas, além de aditivos químicos, corantes, aromatizantes e conservantes. São biscoitos recheados, salgadinhos, refrigerantes, embutidos, macarrões instantâneos e alimentos prontos congelados.
Segundo o Ministério da Saúde, o consumo regular de ultraprocessados está associado a uma série de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, hipertensão, obesidade, doenças cardiovasculares e até alguns tipos de câncer. A pasta alerta ainda que esses alimentos são nutricionalmente desbalanceados e possuem altos teores de gorduras, açúcares e sódio, além de baixo valor nutricional.
A predominância de cidades catarinenses no ranking da USP contrasta com o perfil geralmente atribuído à região Sul: de hábitos alimentares mais naturais, alto índice de desenvolvimento humano e melhores indicadores de saúde. No entanto, os dados apontam para uma mudança silenciosa nos padrões alimentares da população.
Especialistas ouvidos pela pesquisa indicam que o aumento da renda, a urbanização acelerada e a rotina corrida das famílias são fatores que contribuem para a substituição de refeições caseiras por produtos prontos para consumo. A conveniência e, muitas vezes, o preço acessível, acaba pesando mais que a qualidade nutricional.
O estudo da USP serve como alerta não apenas para gestores públicos, mas também para famílias, escolas e profissionais da saúde. A transformação alimentar em curso exige políticas públicas integradas que estimulem educação alimentar, rotulagem clara, controle da publicidade infantil e acesso a alimentos in natura ou minimamente processados.
Em Indaial, assim como em tantas outras cidades do estado, os números refletem escolhas individuais, mas também um sistema alimentar que precisa ser urgentemente repensado. Afinal, o que está em jogo vai além do que se coloca no prato: trata-se de saúde pública, qualidade de vida e o futuro de toda uma geração.
Fonte: Pesquisa do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP).
Foto: Ilustração
Redação Cultura FM / Hudson Alves