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Jovem mata a própria mãe a facadas enquanto ela dormia, em Florianópolis.

A madrugada de sábado amanheceu mais pesada em Florianópolis. E não foi pelo frio que chegou rasgando a noite. Foi pelo silêncio cortado por facadas, por uma tragédia sem lógica nem consolo: um filho matou a própria mãe enquanto ela dormia.

Sim, isso aconteceu. E, não, não é ficção.

Lisete Sulzbacher tinha 61 anos. Era mãe, professora, natural do Rio Grande do Sul. Naquela casa da Rua Romualdo de Barros, no bairro Carvoeira, ela provavelmente acreditava que o pior já tinha passado. Que os conflitos familiares, os altos e baixos da maternidade, as noites em claro com um filho problemático talvez um dia ficassem pra trás. Mas não ficaram.

O assassino? Davi Sulzbacher Gonçalves. 24 anos. Seu filho. Usuário de drogas. Ex-campeão catarinense de xadrez, destaque juvenil. Inteligente. Calculista. Frio. Ele mesmo ligou para a polícia, confessou, esperou a guarnição chegar. Contou, com detalhes, que simulou ir tomar banho, pegou uma faca na cozinha, entrou no quarto da mãe, e atacou. A primeira faca quebrou. Ele foi até a cozinha. Pegou outra. E continuou.

Há algo de insuportável nessa história. Algo que a perícia não explica. Nem o boletim de ocorrência dá conta. Porque o que se rompe aqui não é apenas o vínculo entre mãe e filho, é o próprio tecido da humanidade. É o ponto em que a dor se transforma em desumanidade, ou onde a desumanidade nasce da dor.

Davi disse à polícia que a mãe o “drogou” para levá-lo ao psicólogo. Que o laudo de autismo que recebeu era falso. Acusou, justificou, explicou. Mas nenhuma dessas palavras são capazes de dar conta do sangue na cena do crime, da frieza no gesto.

Vivemos numa época em que o silêncio dentro das casas é muitas vezes mais ruidoso do que qualquer grito na rua. Famílias adoecidas. Jovens afundados em drogas, em distúrbios mentais ignorados, em raivas sem nome. Mães que lutam sozinhas. E que, como Lisete, acabam morrendo nas mãos de quem mais amaram.

Ninguém nasce assassino, mas escolher matar, ainda mais a própria mãe, enquanto ela dorme, é cruzar uma linha sem volta. Frieza, covardia, desrespeito à vida. Não há justificativa que alivie isso. Não há diagnóstico que apague a brutalidade.

Esse não foi um surto. Foi um plano. Foi execução. Foi a morte de uma mulher indefesa pelas mãos de alguém que ela pôs no mundo.

E é justamente por isso que choca tanto, porque fere o que temos de mais sagrado. Porque destrói o símbolo mais profundo da existência humana, a maternidade. E porque escancara que há algo muito errado em volta de nós: famílias sem estrutura, dependência química ignorada, violência silenciosa que explode em tragédias.

O que aconteceu em Florianópolis não é só um caso de polícia. É um grito de alerta para um país adoecido. Um país onde, cada vez mais, mães e mulheres têm sido vítimas dentro de suas próprias casas. E onde filhos, maridos, ex-maridos e companheiro, mesmo diante do inaceitável, ainda encontram quem tente justificar o injustificável.

Lisete não teve chance de defesa. E esse detalhe precisa ser repetido. Ela dormia.

Foto: Ilustração

Redação Cultura FM




04/08/2025 – Cultura FM

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